Luc
de Clapiers, Marquês de Vauvenargues
Aqueles
que não podem atinar com as variedades da mente humana supõem nela
contrariedades inexplicáveis. Eles se espantam que um homem vivaz não seja
perspicaz; que àquele que raciocina com justeza falte juízo em sua conduta; que
outro que fala com clareza tenha o espírito falso, etc. O que faz com que
tenham tanta dificuldade em harmonizar essas pretensas bizarrices é que eles confundem
as qualidades do caráter com as da mente e atribuem ao raciocínio os efeitos
que pertencem às paixões. Eles não percebem que uma mente justa, quando comete
uma falta, não o faz senão para satisfazer uma paixão, e não por carência de
luz; e, quando acontece faltar perspicácia a um homem vivaz, eles não sabem que
perspicácia e vivacidade são duas coisas bastante diferentes, embora
semelhantes, e que elas podem vir separadas. Eu não pretendo desvendar todas as
fontes de nossos erros sobre uma matéria sem limites; quando nós cremos ter a
verdade em um lugar, ela nos escapa por mil outros. Mas eu espero que,
percorrendo as principais partes da mente, poderei apontar as diferenças
essenciais e dissipar um número muito grande dessas contradições imaginárias,
que a ignorância admite. O objetivo deste primeiro livro é fazer saber, por
definições e reflexões fundadas na experiência, todas essas diferentes
qualidades dos homens, que estão compreendidas na denominação “mente”. Aqueles
que buscam as causas físicas dessas mesmas qualidades poderiam talvez falar
delas com maior segurança, se eu conseguisse nesta obra desenvolver os efeitos
cujos princípios eles estudam.
Referencia :
blog Bouffon Rouge; tradução Jelcimar Jr. (Texto
de Marquês de Vauvenargues)
Nenhum comentário:
Postar um comentário