O íntimo
do axioma sofístico é observado por meio dos escritos de Platão como um
pensamento ligado à democracia e às pessoas de classe média. Protágoras nasceu
em Abdera e mudou-se adquirindo diferentes culturas, sua habilidade política
facilitou ser conselheiro de Péricles no auge da democracia grega. Mas era
assalariado, assim como são os professores atuais, no vídeo aula da semana o
Professor Barreira faz uma defesa sobre o tema ao abordar que Protágoras era
cidadão de classe média que necessitava manter-se como os professores, mas por
ser remunerado não era bem visto pelos filósofos, pois no entendimento deles,
os sofistas estariam vendendo seu conhecimento.
Protágoras
problematizou que nem só o mais capacitado poderia participar do espaço
político. Para ele a política tem que ser vista como um discurso de todos, em
que há diferentes pensamentos a serem considerados e todos devem ser ouvidos
para uma analise dos pós e contras chegando a uma decisão ponderada que parte
do todo e não apenas de uns.
Para isso,
Protágoras tenta provar suas afirmações a Sócrates através de um mito:
"[...]
Os deuses haviam terminado a criação das várias criaturas (animais) do mundo.
Mas ainda tinham que dar-lhe vida. Para tanto, chamaram dois irmãos – Prometeu
e Epimeteu – para realizarem a seguinte tarefa: distribuir os dons para as
diversas espécies, de maneira equitativa para que se garantisse que uma espécie
não acabasse por destruir a outra. Epimeteu convence o irmão a deixá-lo fazer a
distribuição dos dons e depois chamar Prometeu para conferir a obra. Epimeteu
fez a partilha, dando a uns a força, e não a velocidade; a outros, a
velocidade, mas não a força; deu recursos a alguns, e não a outros, a quem doou
outros meios de sobrevivência [...] Estes cuidados visavam evitar a extinção de
cada raça.
Quando
Prometeu veio examinar a distribuição dos recursos , viu as várias criaturas
bem providas de tudo, enquanto o homem encontrava-se nu, descalço, sem proteção
ou armas. Sem saber o que fazer, roubou dos deuses o domínio do fogo e das
artes e presenteou-os ao homem. Assim, o homem ficou com as técnicas para se
conservar vivo, mas sem a arte da política. Por estes favores aos homens,
parece que Prometeu foi severamente punido mais tarde. Com o que tinha, o homem
articulou a linguagem, construiu casas, inventou a agricultura. Mas, isolados,
continuavam frágeis diante dos perigos da natureza. E, quando procuravam
reunir-se em segurança, fundando cidades, faziam mal uns aos outros, pois não
tinham os saberes da política, e assim, se dispersavam e acabavam por morrer.
Então, Zeus, temendo que nossa espécie se extinguisse, encarregou Hermes de
levar aos homens os dons do pudor e da justiça como norma para a convivência a
ligar os homens pelos laços da civilidade. Depois de estabelecer que o pudor e
o senso de justiça fossem repartidos a todos os homens sem exceção, ordena que,
em seu nome, todo homem incapaz de pudor e justiça “seja exterminado como se
fosse uma peste na sociedade”. E assim, a humanidade sobreviveu e progrediu. "
Analisando
o mito, Protágoras demonstra seu pensamento sobre democracia enfatizando que as
ideias gerais devem ser vistas como algo tão ou mais importante que o
conhecimento em si, pois o povo ao ser permitido coloca suas opiniões de acordo
com suas necessidades.
Com isso,
Protágoras valoriza a experiência em relação ao especialista, note-se que na
Grécia antiga os anciãos eram demasiadamente valorizados.
É obvio
que alguns setores de um governo dependem de ser analisado por pessoas com
conhecimento técnico, o professor Barreira cita com propriedade a construção de
um barco, ora quem não sabe construir um barco pouco pode contribuir com seu
discurso, entretanto poderá contribuir com seu discurso sobre a necessidade da
comunidade, como por exemplo, é o barco o mais importante para a comunidade
agora.
Como no
caso do Senado Federal que tem uma assessoria legislativa com técnicos de
diversas áreas, colaborando na função legislativa, o professor Barreira se
coloca com bastante propriedade o fato de que muitas vezes um técnico tem o
domínio do assunto, mas não tem a capacidade de convencimento presente na
retórica, e nos dias atuais muito utilizadas pelos advogados e políticos.
Podemos relacionar as ideais sofistas com o
mundo atual, pois os mesmos dedicam-se a ensinar a retórica que é a eficácia
nos discursos, e hoje há os marqueteiros que usam tais estratégias para
conquistar os objetivos de convencimento do povo, se comunicando da forma mais
persuasiva possível, sendo considerados, então, como os neosofistas que
valorizam a técnica e estratégias do discurso, mas não colocando em detrimento
a democracia, pois o homem é um ser político, e, sendo assim, é necessário que
a sociedade estabeleça regras e limites para que se viva com respeito e
dignidade, valorizando, de tal forma, a voz ativa de todos e não apenas de uns.