1. O Analfabetismo Moral
Para Aristóteles toda ação humana tende a um bem. Esse “bem” que define
como “felicidade” é a virtude suprema do homem, que necessita possuir algumas
características que o levem a alcançá-la plenamente, ou seja, desejar
corretamente e agir de acordo com a razão prática, obedecendo as circunstâncias
adequadas. A virtude, para Aristóteles está na justa medida, nem excesso, nem
falta.
No Livro VII da Ética a Nicômaco, ele trata da fraqueza da vontade que
torna o homem um ser malvado, agindo por excessos ou por falta, esquecendo-se
da temperança.
Há 5 perfis que caracterizam o homem com um “analfabeto moral”, ou
aquele que não alcançou a maturidade ética, são eles:
1.1. O Akolastos: visa apenas o prazer, vislumbra apenas o próprio
desejo. Não se arrepende e aparenta uma criança indisciplinada que não fora
educada com rigor;
1.2. O Malakos: não procura o prazer, mas evita a todo custo a presença
da dor. Não resiste às tentações;
1.3. Theriotes: situa-se no limite da humanidade, representa o polo
oposto ao divino. Embora tenha a aparência humana, é um monstro;
1.4. O Acrático: no Livro VII, Aristóteles define acrasia como uma
fraqueza moral e é dos vícios o que mais lhe interessou.
Essa característica faz com que o homem, mesmo consciente da ação
correta, age de forma diferente. Age até contra si mesmo e seus próprios princípios.
É arrastado pela paixão, perde a razão, embora acredite que seu propósito seja
bom para si.
2. O vicioso satisfeito e em paz consigo mesmo: o Kakos
Para começarmos a
entender esse perfil podemos considerar que se trata da pessoa que
voluntariamente adquiriu o hábito do vicio, agindo com excesso ou falta a
respeito dos prazeres e das paixões.
A forma como cada individuo realiza suas
escolhas em relação aos meios para alcançar um fim é o que vai diferenciar uma
ação virtuosa de uma viciosa.
“... a busca e a
repulsa na esfera do desejo correspondem à afirmação e à negação na esfera do
pensamento; por isto, a excelência moral é uma disposição da alma relacionada
com a escolha, e a escolha é o desejo deliberado, segue-se que, para que a
escolha seja boa, tanto a razão deve ser verdadeira quanto o desejo deve ser
correto. E este deve buscar exatamente o que aquela determina. (ARISTÓTELES, EN
VI 2, 1139a30-36).
O kakos apesar de
saber deliberar corretamente, pois escolhe de acordo com suas convicções, tem
em vista um fim errado. Isso ocorre pela simples razão de que aprendeu errado,
ou simplesmente não aprendeu. Houve falha na sua educação e não aprendeu sobre
as regras sociais e políticas da cidade em que vive e não sabe, portanto
discernir quando certa ação é boa, nem que certa ação é ruim e deve ser evitada,
portanto age injustamente com a firme persuasão de que está agindo bem e com
isso não sente arrependimento. De acordo com Aristóteles são pessoas
incorrigíveis.
“O perverso age em
harmonia com si mesmo: há harmonia entre a sua própria razão e seus desejos.
Ele deseja o que é absolutamente contrário à razão correta e voluntariamente
satisfaz seus desejos, não tendo pesar nenhum. O perverso não sofre de algum
conflito interior entre desejos injustos e razão, não tem dúvidas sobre a
moralidade das suas ações e, por isso mesmo, há certa semelhança entre o
malvado e o virtuoso: os dois agem voluntariamente, com prazer e em harmonia
consigo mesmo.”
A conclusão que
Aristóteles chega é que apesar do perverso está em paz e harmonia consigo mesmo,
ainda assim não encontra a felicidade já que esta possui como parte integrante
a virtude. “Se eudaimonia é a realização do homem enquanto homem, e se a
felicidade não é um simples estado psicológico de bem estar, mas uma atividade,
qualquer atividade que o homem realize é em vista de um fim. Esse fim, não
necessariamente deve ser o fim último, isso é, a felicidade mesma, pode ser um
fim intermediário em vista de um fim superior. Seja qual for o fim, a atividade
que visa a sua realização, visa, em última análise, à realização do homem. Para
tanto, porém, não basta desejar, é necessário desejar de forma humana, isto é,
moral. O conjunto de fins que orquestra a felicidade deve ser de fins bons, a
saber, fins direcionados pela razão prática à efetivação do ser humano enquanto
ser racional, social e amante da sophia
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