segunda-feira, 11 de abril de 2016

A TENDÊNCIA NÃO CORRETA AO FIM: O MAL MORAL


 


1. O Analfabetismo Moral

Para Aristóteles toda ação humana tende a um bem. Esse “bem” que define como “felicidade” é a virtude suprema do homem, que necessita possuir algumas características que o levem a alcançá-la plenamente, ou seja, desejar corretamente e agir de acordo com a razão prática, obedecendo as circunstâncias adequadas. A virtude, para Aristóteles está na justa medida, nem excesso, nem falta.
No Livro VII da Ética a Nicômaco, ele trata da fraqueza da vontade que torna o homem um ser malvado, agindo por excessos ou por falta, esquecendo-se da temperança.
Há 5 perfis que caracterizam o homem com um “analfabeto moral”, ou aquele que não alcançou a maturidade ética, são eles:
1.1. O Akolastos: visa apenas o prazer, vislumbra apenas o próprio desejo. Não se arrepende e aparenta uma criança indisciplinada que não fora educada com rigor;
1.2. O Malakos: não procura o prazer, mas evita a todo custo a presença da dor. Não resiste às tentações;
1.3. Theriotes: situa-se no limite da humanidade, representa o polo oposto ao divino. Embora tenha a aparência humana, é um monstro;
1.4. O Acrático: no Livro VII, Aristóteles define acrasia como uma fraqueza moral e é dos vícios o que mais lhe interessou.
Essa característica faz com que o homem, mesmo consciente da ação correta, age de forma diferente. Age até contra si mesmo e seus próprios princípios. É arrastado pela paixão, perde a razão, embora acredite que seu propósito seja bom para si.

2. O vicioso satisfeito e em paz consigo mesmo: o Kakos

Para começarmos a entender esse perfil podemos considerar que se trata da pessoa que voluntariamente adquiriu o hábito do vicio, agindo com excesso ou falta a respeito dos prazeres e das paixões.
 A forma como cada individuo realiza suas escolhas em relação aos meios para alcançar um fim é o que vai diferenciar uma ação virtuosa de uma viciosa.
“... a busca e a repulsa na esfera do desejo correspondem à afirmação e à negação na esfera do pensamento; por isto, a excelência moral é uma disposição da alma relacionada com a escolha, e a escolha é o desejo deliberado, segue-se que, para que a escolha seja boa, tanto a razão deve ser verdadeira quanto o desejo deve ser correto. E este deve buscar exatamente o que aquela determina. (ARISTÓTELES, EN VI 2, 1139a30-36).
O kakos apesar de saber deliberar corretamente, pois escolhe de acordo com suas convicções, tem em vista um fim errado. Isso ocorre pela simples razão de que aprendeu errado, ou simplesmente não aprendeu. Houve falha na sua educação e não aprendeu sobre as regras sociais e políticas da cidade em que vive e não sabe, portanto discernir quando certa ação é boa, nem que certa ação é ruim e deve ser evitada, portanto age injustamente com a firme persuasão de que está agindo bem e com isso não sente arrependimento. De acordo com Aristóteles são pessoas incorrigíveis.
“O perverso age em harmonia com si mesmo: há harmonia entre a sua própria razão e seus desejos. Ele deseja o que é absolutamente contrário à razão correta e voluntariamente satisfaz seus desejos, não tendo pesar nenhum. O perverso não sofre de algum conflito interior entre desejos injustos e razão, não tem dúvidas sobre a moralidade das suas ações e, por isso mesmo, há certa semelhança entre o malvado e o virtuoso: os dois agem voluntariamente, com prazer e em harmonia consigo mesmo.”
A conclusão que Aristóteles chega é que apesar do perverso está em paz e harmonia consigo mesmo, ainda assim não encontra a felicidade já que esta possui como parte integrante a virtude. “Se eudaimonia é a realização do homem enquanto homem, e se a felicidade não é um simples estado psicológico de bem estar, mas uma atividade, qualquer atividade que o homem realize é em vista de um fim. Esse fim, não necessariamente deve ser o fim último, isso é, a felicidade mesma, pode ser um fim intermediário em vista de um fim superior. Seja qual for o fim, a atividade que visa a sua realização, visa, em última análise, à realização do homem. Para tanto, porém, não basta desejar, é necessário desejar de forma humana, isto é, moral. O conjunto de fins que orquestra a felicidade deve ser de fins bons, a saber, fins direcionados pela razão prática à efetivação do ser humano enquanto ser racional, social e amante da sophia

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